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O que é Educação Biocêntrica e o desenvolvimento organizacional? Cássia Regina (CE)

O que é Educação Biocêntrica e o desenvolvimento organizacional?

Fragmentos do livro educação biocêntrica e o desenvolvimento organizacional

A Educação Biocêntrica baseia-se num novo paradigma das Ciências Humanas que é o “Princípio Biocêntrico”. Seu objetivo é a “conexão com a vida”. Sua metodologia é a “experiência”.

A imagem do ser humano proposta pela Educação Biocêntrica é a do “ser relacional, ecológico, e cósmico”.

A matéria da Educação Biocêntrica é a vida. É essencial em nossa cultura recuperar o sentimento de “sacralidade da vida” e a “alegria de viver”.

O desenvolvimento da afetividade, da percepção ampliada e a ampliação da consciência ética devem ter prioridade absoluta. (BULL, 1995).

Educação Biocêntrica: educação voltada para uma reeducação da vida e do estilo de vida, por meio do resgate dos vínculos. Consigo mesmo, com o outro e com o cosmos. Buscamos com esse nível de conexão, o processo de fortalecimento da identidade pessoal, coletiva e do lugar. O desenvolvimento da inteligência afetiva é altamente estimulada, pois acreditamos que ela permeia todas as demais e propicia o aprendizado reflexivo e vivencial.

A sua visão do mundo é biocêntrica e, por ser posterior ao antropocentrismo contemporâneo, diferenciando-se da visão ecocêntrica, postula que o centro de tudo é a vida, todos contribuindo ativamente para a harmonia do universo. Todos os componentes fazem parte do enredo e, portanto, têm o mesmo nível de importância.

 

Cavalcante (2001) sistematizou o conteúdo ensino-aprendizagem da Educação Biocêntrica, possibilitando diversas expressões. Isso tem favorecido consideravelmente a atuação da consultoria na área organizacional.

Conteúdo ensino aprendizagem:

Construção do conhecimento orientada pelo princípio biocêntrico (que vai além do princípio antropocêntrico); saberes diversos a serviço das funções primordiais da vida; apropriação da tecnologia em benefício da vida; corporeidade vivida – a memória do corpo; poesia e arte em articulação com a ciência; percepção expandida através da ecologia profunda; reconhecimento e expressão de emoções legítimas; cultivo da afetividade; ampliação da consciência moral e ética para a conservação da vida (CAVALCANTE 2001).

Segundo Toro (1995), o Princípio Biocêntrico é o paradigma central da Educação Biocêntrica, e orienta todo nosso trabalho e intenção, chamando nossa atenção para o cuidado que devemos ter com tudo e com todos, pois todos estão definindo o futuro para cada pessoa. Na teia de relacionamentos não existem seres com maior ou menor grau de relevância, pois todos fazemos parte desse continuum chamado vida. Nesse sentido, algumas espécies, inclusive o homem, podem desaparecer, mas a vida sempre continuará existindo.

Temos, em Biodança, segundo Toro,  outros princípios que norteiam um trabalho baseado na Educação Biocêntrica. São eles:

  • Princípio da Progressividade: cuidado que o facilitador deve ter para gerar mudanças progressivas, não expondo a pessoa a grandes passos sem uma base que lhe dê equilíbrio homeostático. É importante respeitar o ritmo de cada pessoa, facilitando gradativamente a mudança, sem a ansiedade de gerar mudanças radicais.
  • Princípio vivencial: usar dança-movimento (contato e carícia) e música. Este método de ensino segue em alguns aspetos o modelo teórico da Biodanza que, segundo Góis (1995), é um “Sistema de desenvolvimento humano orientado para o estudo e reforço da expressão do potencial humano, através da música, exercícios de comunicação em grupo e experiências integradoras”.

Esse modelo reforça aspectos da identidade por meio de cinco linhas de expressão: vitalidade no sentido de resgatar a saúde corporal, mental, vital, conscientizando as pessoas para uma vida saudável; a sexualidade e o prazer de viver, ao nível corporal, existencial e relacional, fomentando uma visão de corporeidade e sensualidade; criatividade e capacidade de inovar, criar, criar; Chamamos isso de autopoiese, facilitando a constante reconstrução de si mesmo; Afetividade no sentido de fortalecer a inteligência afetiva, a capacidade de amar a si mesmo e aos outros. Afetar, tocar o sentimento – emoção, facilitando a Transcendência, estado de pulsação e transformação da identidade que, se estimulada, propicia a expansão da consciência e a mudança de valores.

  • Princípio da autorregulação é o conhecimento e a crença que o indivíduo tem de si mesmo, a capacidade de se auto-regular.
  • Princípio da transmutação de valores: sabe-se que por meio da experiência da transcendência, do diálogo e do encontro com o outro, a pessoa transmuta seus valores, podendo ressignificar a forma como percebe e faz sua vida.
  • Atuar na parte saudável é outro princípio que norteia o trabalho com a educação biocêntrica, promovendo a saúde e o que ela ainda tem. Focar no que as pessoas trazem de saúde, suas percepções e ações saudáveis, seus talentos, direcionar a luz e tornar o ambiente mais iluminado. Os desafios, as doenças existem, não é ignorar, mas dar mais ênfase ao que temos e que ainda é saudável… esse movimento é misteriosamente e comprovadamente mais efetivo e dentro de um ambiente enriquecido, em poucas sessões de trabalho coletivo, constatamos um grau de possibilidades, transforando ameaças e fraquezas em oportunidades e força.

Princípio da Reciprocidade: há um estímulo para o encontro dialógico, onde a relação tanto no plano verbal quanto no corporal é responsável pelo crescimento humano que acontecerá tanto teórica quanto existencialmente. O diálogo é interação neguentrópica, uma força contrária à entropia (desperdício de energia). A meu ver, é aí que começa tudo o que o diferencia de outros modelos e abordagens.

O que é interação neguentrópica?

Interação que produz diversidade, contraste, excitação, instabilidade, incerteza, bifurcação, feedback, criatividade, auto-organização e transcendência. O facilitador tem o papel de induzir um clima de aprendizagem baseado nesses aspectos da interação neguentrópica, por meio do Círculo de Cultura (diálogo e experiência) e da ação compartilhada e solidária (Góis, 1996). No círculo de cultura não temos a necessidade de um consenso, de alguém ter a palavra final, não há competição de idéias ou falas, as pessoas podem se expressar no mundo com sua visão e aprender a ouvir as percepções de outras pessoas, tendo uma grande oportunidade de aprender, falando, ouvindo, repensando, sentindo e encontrando… Essa dinâmica humana torna a comunicação não violenta, vamos tendo a oportunidade de transformar a cultura e narrativas de verdades absolutas em uma cultura de paz. Aprender a construir em grupo, aceitar o outro ponto de vista, desconstruir valores anti-vida em valores biocêntrico.

Os principais teóricos que contribuem para a construção da EDUCAÇÃO BIOCÊNTRICA:

Na área pedagógica:

Paulo Freire e a educação dialógica; Vygotsky e o sócio-interacionismo; Wallon e a importância da afetividade;Piaget e Emília Ferrero e o construtivismo;

Em outras áreas:

Dilthey e o conceito de vivência; Merleau-Ponty e a pré-reflexividade; Martin Buber e a relação eu-tu; Pichon Rivière e o processo grupal; Prigogine – estruturas dissipativas; Lovelock e a hipótese de Gaia; Fritjof Capra e as ciências da complexidade; Leonardo Boff e o paradigma ecocêntrico; Stanislav Groff e as matrizes perinatais; Pierre Weill, Roberto Crema e o holismo; Cezar Wagner de Lima Góis e o método de processo – MdP.

Teóricos atuais que iniciaram a sistematização, escrevendo coletivamente o primeiro livro de educação biocêntrica:  – Educação Biocêntrica, um movimento de construção dialógica:

Rolando Toro e o princípio biocêntrico, Ruth Cavalcante, Cezar Wagner, Marcos Cavalcante, Cássia Regina, Cristiane Arraes, Fátima Diógenes.

Este primeiro livro, foi base para a escrita de um segundo livro que escrevi tendo como objeto de estudo e percepções, um trabalho de consultoria interna, que desenvolvi no Banco do Nordeste: esse texto faz parte do livro Educação Biocêntrica: Vivenciando o desenvolvimento organizacional.

A Educação Biocêntrica está sendo construída a partir desses paradigmas que enfatizam a vida, vendo o ser humano como um holos, com diferentes inteligências, que precisa ser estimulado a criar relações entre todos. É uma abordagem que valoriza todo o potencial de crescimento que a pessoa traz.

As teorias da complexidade têm contribuído muito para uma melhor compreensão dessa visão integrada do ser humano e da realidade. A incerteza, a ecologia profunda, o caos e a hipótese de Gaia assentam numa linguagem adequada e próxima daquilo que concebemos como um princípio biocêntrico, um paradigma que tem a sua estrutura básica no biológico, sendo o ser humano uma manifestação de vida que se vai transformando em outra forma de energia após sua morte.

Cavalcante (2001), Toro (1995) e tantos outros facilitadores e educadores construíram esse modelo pedagógico, sistematizando por meio de material desenvolvido por outros teóricos, bem como práticas em diversas instituições. A teoria tem sido realizada dentro de uma postura participativa, fundamentada em Paulo Freire, que é ação-reflexão-avaliação-construção-ação, em um movimento contínuo de recriação e análise. Isso nos proporcionou uma oportunidade de avaliar e testar o que às vezes existe no mundo da epistemologia. Estamos construindo os pilares a partir de outras experiências, retirando o que não concordamos de algumas abordagens, aproveitando outras em coerência com o princípio biocêntrico.

Utilizo a Educação Biocêntrica em universidades, ambientes terapêuticos, comunitários e organizações e tenho recebido muitas respostas positivas quanto à sensação de prazer que as pessoas têm na hora da aula, bem como o despertar que acontece para um estilo de vida mais saudável após as vivências.

Inserimos a educação biocêntrica no modelo de consultoria, utilizando o Método de Processo, metodologia criada por Cezar Wagner e que tem passos definidos e um conjunto de técnicas, vivência, jogos e dinâmicas que facilitam o processo de inserção e customização das formas de atuação e linguagem de acesso para cada empresa/organização. Testamos essa metodologia por mais de 4 anos nessa instituição e percebemos que houve uma melhoria considerável com relação ao desenvolvimento das equipes, integração entre disseminação das estratégias e planejamento empresarial, melhoria dos processos, gestão de pessoas e construção de agendas integradas dessa dinâmica de funcionamento, ocasionando uma melhor gerência e conhecimento dos valores, cultura e procedimentos necessários para a excelência e transculturação para valores pró-vida.

Nossa proposta é…

Integração e afetividade

encontrar amor e vínculo, ampliar a comunicação afetiva

expressar a identidade!

Identidade renovada, memória da pele, na pele

Aprender pela vivência, na vivência

Criar, dar à luz

ser poesia inacabada

Inovar existindo!

Expandir, Olhar o sutil, ouvir o não dito

Perceber-se único com o universo

Ter consciência crítica, estar no mundo

Criar e recriar conhecimento com prazer de viver

Vamos seguindo por aqui, abraçando ocês em sintonia com o desejo de viver mais alegremente.

Cássia Regina

 

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