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Os efeitos da Biodança com mulheres assistidas no Centro de Referência Loreta Valadares – CRAM – Salvador (BA) por Marisa Santiago de Jesus

A Biodança no CRAM Loreta Valadares acontece desde 2014 até os dias atuais, inicialmente as aulas eram semanais, atualmente é quinzenal. Lançar o olhar para levar a Biodança às mulheres em situação de violência de gênero é abrir um leque de possibilidades de ampliar o conhecimento para melhor entender a construção social da violência contra a mulher. A violência por ser complexa está nas ações cotidianas das pessoas através de diversas facetas sem ser devidamente entendida como violência. O presente trabalho apresenta os efeitos da Biodança no enfrentamento da violência contra a mulher.

Segundo o Mapa da Violência (2015), na Bahia a violência contra a mulher vem crescendo constantemente e chega a superar a média nacional, com grandes taxas de feminicídios. Dados atualizados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (2022), apontam que o Brasil tem mais de 31 mil denúncias de violência doméstica ou familiar contra as mulheres até julho de 2022.

O projeto de criação do Centro de Referência Loreta Valadares tem sua gênese no movimento de mulheres e feminista de Salvador. No ano 2005, no dia 25 de novembro, numa casa alugada, foi inaugurado o Centro de Referência Loreta Valadares – CRLV, no Bairro da Federação, na cidade do Salvador, Bahia.

Atualmente o CRLV encontra-se no bairro dos Barris. O CRLV foi criado para ser um espaço de prevenção e atenção, com atendimento social, jurídico e psicopedagógico, de apoio, orientação e trabalho terapêutico para as mulheres em situação de violência, com responsabilidade de cobertura da área do município de Salvador (D.O.E, 2005). O serviço é estruturado por setores: Setor de Apoio Administrativo; Subgerência de Ações de Prevenção e Atenção a Mulheres em Situação de Violência; Setor de Atenção; Setor de Articulação da Rede de Atenção. Conforme reza a Norma Técnica de Uniformização (2006), o atendimento nos CRAMS está destinado às mulheres “em situação de vulnerabilidade, em função de qualquer tipo de violência, ocorrida por

sua condição de mulher” (NTU-CRAMS, 2006, p. 15). E o Centro de Referência Loreta Valadares tem como público a mulher com idade igual e acima de 18 anos, residentes em Salvador, com filhos ou sem filhos, independente da cor da pele, credo e/ou estado civil, que esteja em situação de violência doméstica e ou familiar. Dentre as atividades oferecidas no CRLV, a Biodança está inserida no Setor de Prevenção, para mulheres já assistidas no Centro e, posteriormente as aulas foram abertas ao público feminino em geral, por solicitação das alunas que pediam para trazer uma vizinha, irmã, mãe, etc.

De acordo com Rolando Toro (2002), a Biodança é “um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e de reaprendizagem das funções originais da vida”. Não trabalha de forma analítica é vivencial e trabalha com música e exercícios específicos. Promove o controle do estresse, o resgate da segurança e a elevação da autoestima através da integração afetiva. Estimula para desenvolvimento humano baseado nas vivências criadas através de movimentos de dança com músicas selecionadas para a redescoberta do corpo, da afetividade e do prazer de viver. A sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio da música, do canto, do movimento e de situações de encontro em grupo e, que a base metodológica da Biodança está estruturada em “cinco linhas de vivência” destinadas a elevar a autoestima.

As Linhas de Vivência da Biodança. 1) Vitalidade: potencial de equilíbrio, homeostase, de harmonia biológica; ímpeto vital, energia de que o indivíduo dispõe para enfrentar o mundo;

2) Sexualidade: capacidade de sentir o desejo sexual e o prazer; capacidade de fecundação;

3) Criatividade: capacidade de renovação aplicada à própria vida, isto é, empregar a criatividade em cada ato;

4) Afetividade: capacidade de dar proteção; aceitação humana sem discriminação; empatia;

5) Transcendência: capacidade de ir além do EU e de identificar-secom a totalidade cósmica; capacidade de experimentar os estados de expansão da

consciência. (TORO, 2002).

A prevenção da violência contra a mulher revela-se indispensável para o fortalecimento e empoderamento das mulheres em qualquer faixa etária.

 

Relato da condição emocional da mulher ao chegar para o grupo da Biodança:

– AVMS – Era muito tímida, hoje estou melhor me sinto outra pessoa!

– RSN – Sentia um pouco tímida, mas no decorrer do tempo estou feliz com a biodança.

– MGOC – Minha autoestima baixa, muita tristeza.

– MASS – Eu ainda não estou mais hoje eu vou começar a partir de hoje eu quero começar a entrar na Biodança e vou continuar.

Marisa Santiago é Bibliotecária, graduada na instituição de ensino UFBA. É concursada da Prefeitura Municipal de Salvador, curso de extensão no NEIM/UFBA – Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, 2013 e é graduada em Biodança pela Escola de Biodança da Bahia, trabalha no CRLV desde 2013 na chefia do Setor de Prevenção, onde desenvolve a atividade da Biodança com mulheres assistidas e mulheres não assistidas neste Centro de Referência.- JSSCA – Então eu cheguei aqui psicologicamente arrasada em todos os sentidos econômico meu marido levou todas as minhas economias, meu trabalho eu não conseguia pegar nem na tesoura pra cortar nada, fazer nada e a vontade que eu tinha era realmente de sumir então quando cheguei agora eu tô bem mais

recuperada hoje eu estou com a psicóloga Doutora Larissa […].

– LCRS – Péssima, incapaz de resolver os meus problemas, insegura.

– MJBS – Autoestima muito baixa.

– EM – Muito magoada, desesperada e aqui encontrei apoio.

– JAMO – Me sentia oprimida, desencorajada no caso não tinha coragem, tinha medo das pessoas até hoje tô em busca da minha autoconfiança que eu não confiava em ninguém aí chegava como se fosse um bicho do mato.

– MAV – Em conflito sobre sequelas vivenciadas durante minhas relações afetivas do passado.

– ASL – Deprimida com a autoestima baixa.

Importância de participar da Biodança.

– ASL – A Biodança melhorou minha vida. A minha professora é muito dedicada. Hoje só tenho a agradecer.

– JAM – Pra mim foi muito importante porque eu fiquei assim mais alegre, porque eu sou alegre, sempre fui alegre, mais depois do acontecimento, fiquei com a minha autoestima lá embaixo, minha autoconfiança com as pessoas, hoje em dia tô em busca da minha autoconfiança e a minha autoestima tá mudando, tá melhorando cada dia mais.

– MAV – Participo do grupo da Biodança com o objetivo ao que ele se propõe: libertar emoções através da música e dança, adoro! Marisa é minha fadinha!

– EM – Muito bom, porque a gente consegue ajudar as pessoas que estão precisando, fazemos novas

amizades e aqui encontramos tranquilidade.

– BMFO – Esse grupo aqui é maravilhoso, é muito bom, é um momento de descontração, de reflexão também e eu estou gostando bastante.

– MJBS – Graças a Deus eu me dei bem com a professora Marisa ela é a melhor coisa para a minha vida, a Biodança, tudo eu participo da instituição Loreta. Obrigada por eu estar ouvindo a Rádio Excelsior Programa de Mulher para Mulher, estou muito feliz e satisfeita. A Biodança é tudo para mim, mudou a minha vida!.

– LCRS – Dá segurança, bem-estar emocional, ajuda no psicológico.

– MGSC – A interação com outras mulheres descobrimos que existem pessoas com o mesmo problema ou pior.

– RSN – Grupo alegre e feliz, unidas.

– AVMS – É muito importante, acho que toda mulher deveria fazer.

– MLA – Já fiz há muito tempo atrás. É muito gratificante tanto para a mente quanto para o corpo e a alma.

O trabalho com a Biodança no CRLV trouxe muitos dados avaliativos, algumas mulheres vinham para o CRLV através da Biodança e sentiam-se acolhidas em todas as atividades. Na roda de verbalização elas falavam da melhoria na relação com familiares. Aprendiam que através da dança, as dificuldades e conflitos de violência poderiam ser superadas, elas não estavam mais sozinhas, existia naquele espaço um ninho afetivo mulheres onde as mulheres se ajudavam. Para algumas delas, a Biodança foi a porta de entrada e nas vivências descobriam que precisavam de apoio nos serviços de jurídicos e psicológicos oferecidos no CRLV.

 

Referências

BRASIL. Presidência da República. Norma Técnica de Uniformização. Brasília-DF: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2006.

JESUS, Marisa Santiago de. Os efeitos da Biodança com mulheres assistidas no Centro de Referência Loreta Valadares – CRAM. Salvador-Bahia, 2023.

MAPA DA VIOLÊNCIA. Disponível em: <Brasil tem mais de 31 mil denúncias de violência doméstica ou familiar contra as mulheres até julho de 2022 — Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania

(www.gov.br)>. Acesso em: 25 jan. 2023.

TORO, Rolando. Biodança. São Paulo: Olavobrás, 2002.

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